Para um observador atento, o mercado de tecnologia possui bastante semelhança com o mundo do futebol. Diversas empresas (times) competem entre si para determinar quem possui os produtos (jogadores) mais atraentes e capazes de atrair um grande público (torcedores) — em ambos os casos, essa rivalidade gera declarações de amor incondicional e uma espécie de fidelidade irracional a determinados nomes.
Quando se trata de produtos eletrônicos, o que determina a sobrevivência de uma marca também é a capacidade que ela tem de vencer seus competidores. A participação que um produto ou empresa tem no mercado é a medida mais importante para medir sua capacidade de sobrevivência — quanto menor esse número, maiores as chances de uma companhia entrar com um pedido de falência ou decidir pela descontinuação de algum dispositivo.
Neste artigo, o Tecmundo viaja pelos mais de 35 anos da história da tecnologia e mostra quem foram os líderes de mercado de cada época (e quais os motivos para isso). Para tornar mais fácil a leitura e compreensão dos dados, dividimos as informações apresentadas em três categorias: computadores pessoais, smartphones e tablets.
Computadores pessoais
1975-1980: a era pré-histórica
Embora o mercado de PCs atualmente seja gigantesco e envolva a circulação de uma quantidade imensa de dinheiro, vale lembrar que, em seu princípio, as máquinas de computação pessoal eram fruto do trabalho de algumas poucas pessoas talentosas que construíam produtos em suas garagens ou em pequenos escritórios.
Como nesse início praticamente qualquer um poderia entrar no mercado sem grandes problemas, as prateleiras das lojas estavam lotadas de máquinas com nomes e características diferentes. Embora houvesse nomes de peso, como o Altair (oficialmente considerado como o primeiro computador pessoal), a existência de uma grande variedade de produtos fez com que não houvesse um único líder de mercado facilmente identificável nessa época.
Entre os nomes que se destacam no período estão o Atari 400/800, o TRS-80 da Radio Shack, o Commodore PET e o Apple 2. O produto desenvolvido por Steve Jobs e Steve Wozniak chamou atenção por trazer o primeiro grande aplicativo da indústria, o software de planilhas VisiCalc. Esse período também marcou o lançamento do Commodore 64, primeiro computador pessoal a realmente atingir um mercado de massa, vendendo 22 milhões de unidades durante a sua existência.
Nessa primeira era, havia uma grande diferença na popularidade de um produto dependendo do mercado em que ele estava inserido. Enquanto dispositivos como o ZX-80, ZX-81 e o Spectrum venderam bastante no Reino Unido, eles não tiveram o mesmo impacto nos Estados Unidos. Da mesma forma, o Apple 2 teve muito mais popularidade na América do Norte do que na Europa, que na época possuía um ecossistema de aparelhos bastante específico.
1981-2012: o Império IBM PC (e de seus clones)
A indústria dos computadores pessoais sofreu um grande impacto quando, em 1981, a IBM introduziu o modelo 5150 da linha IBM PC. Embora não tivesse o mesmo poder de máquinas como o Commodore 64 (e apresentasse um preço mais elevado), o dispositivo conseguiu se estabelecer como padrão devido a dois fatores importantes: o nome de sua fabricante e a existência de milhares de clones.
Como a máquina havia sido desenvolvida usando peças de estoque, não havia restrições que impedissem outros fabricantes de utilizá-las em seus próprios dispositivos. Isso acabou resultando em uma padronização do mercado, já que todos os produtos desenvolvidos com inspiração na máquina da IBM eram compatíveis entre si — situação impensável até poucos anos antes.
Para tentar mudar essa situação, competidores como a Apple, Commodore e Atari investiram em recursos como interfaces gráficas controladas por mouses, canais de som MIDI e displays coloridos, entre outras características. Porém, razões variadas fizeram com que essas iniciativas não dessem certo, e muitas dessas empresas acabaram falindo ou sendo vendidas durante o processo — em 1997, até mesmo a poderosa companhia da Maçã estava tendo que lidar com perdas bilionárias.
Uma dinastia imbatível
“A guerra dos PCs acabou. A Microsoft venceu”, declarou Steve Jobs durante seu período à frente da NeXT, companhia fundada por ele após ter sido forçado a deixar a Apple. Embora a IBM tenha aberto o caminho para o crescimento da participação de mercado dos PCs, não foi ela quem colheu as verdadeiras recompensas, mas sim a Microsoft, empresa responsável pelo sistema operacional usado na maioria das máquinas vendidas.
A IBM até tentou recuperar as rédeas do mercado através de uma linha de computadores com tecnologias mais difíceis de serem clonadas. Porém, o impacto causado por essas tentativas foi mínimo, sendo que a única lembrança deixada pela companhia foram os conectores PS/2, ainda presentes em muitas placas-mães disponíveis atualmente.
Entre 1997 e 2003, ocorrem alguns fatos bastante marcantes, sendo o principal deles a volta de Jobs ao comando da Apple. Isso resultou no lançamento do OS X e de uma nova linha de computadores Mac, o que ajudou a salvar a empresa — embora não tenha surtido impacto sobre a participação de mercado que seus produtos têm no setor de computadores pessoais.
Smartphones – computadores na palma de sua mão
2000-2006: os primeiros passos
A ideia de usar dispositivos compactos com a mesma potência de um computador de mesa existe desde que as primeiras máquinas pessoais foram lançadas. Porém, somente em 1996, com a chegada do Palm Pilot, foi que isso se tornou uma parte integrante de nossa sociedade.
Aparelhos do tipo eram conhecidos como PDAs (uma sigla para assistentes digitais portáteis), apresentando uma interface de uso simplificada que permitia a realização de funções como o agendamento de atividades e a configuração de alarmes. Na mesma época do surgimento desses gadgets, celulares passavam por uma transformação rápida, se tornando cada vez mais compactos e acessíveis.
Não demorou até que surgissem produtos que combinavam as características desses dois tipos de dispositivos, sendo que os aparelhos fabricados pela Nokia dominavam com folga o mercado. Apesar de existirem competidores como o PalmOS, o WinMobile e o BlackBerry (que revolucionou o mercado ao se focar no envio rápido de emails), até 2006 o Symbian dominava completamente o mundo dos smartphones.
2007-2012: a ascensão do iOS e do Android
Em 2007, foi anunciado um aparelho que mudou completamente o mercado de smartphones e dita regras até hoje: o iPhone. Deixando de lado teclas físicas e canetas stylus, o aparelho desenvolvido pela Apple optava por uma tela sensível ao toque e uma interface que se mostrava intuitiva para uma grande gama de usuários.
Embora as vendas do produto inicialmente tenham sido tímidas, a grande publicidade em torno dele e a comunicação boca a boca fizeram com que ele virasse um verdadeiro fenômeno. Nenhum competidor estava pronto para enfrentar a Apple naquele momento, e não demorou até que outras empresas tentassem emular as características do novo produto — entre elas, a Google.
Apesar do domínio inicial do iPhone e seu iOS, aparelhos com o Android conseguiram dominar o mercado explorando as falhas da estratégia adotada pela Apple. Como nem todas as operadoras dos Estados Unidos possuíam contratos para vender o iPhone, a plataforma concorrente conseguiu explorar espaços em que a companhia de Cupertino não estava presente.
Além disso, a grande quantidade de aparelhos compatíveis com o sistema operacional da Google ajudou a chamar a atenção de uma gama variada de consumidores. O resultado é a guerra travada atualmente entre a empresa de Tim Cook e seus concorrentes (entre eles, a Samsung) pelo domínio do mercado, cujo resultado ainda permanece incerto.
Tablets
2010-2012: supremacia do iPad
Quando chegou às lojas em 2010, o iPad era um produto cujo objetivo real poucos conheciam, algo que não impediu a maioria das pessoas de querer um. Aproveitando grande parte do hardware e dos aplicativos desenvolvidos para o iPhone, o tablet tinha como destaques sua tela de alta qualidade e a presença de uma bateria extremamente durável.
Embora não tenha demorado até que os competidores entrassem em cena, a supremacia da Apple ainda se mantém estável nesse segmento de mercado. Entre os principais motivos para isso está o fato de que seu gadget compartilha os mesmos aplicativos usados pelos demais produtos fabricados pela companhia e o baixo lucro que as operadoras têm com a venda desse tipo de dispositivo — situação que explica o baixo apoio ao Android nesse caso.
A batalha pela liderança desse mercado promete ser um espetáculo bastante interessante de ser observado nos próximos anos. Além de aparelhos como o Kindle Fire e o Nexus 7 estarem chamando a atenção pelos seus preços reduzidos, a Microsoft pretende usar o peso do nome Windows para conquistar uma grande fatia dos consumidores, tarefa que não será muito fácil de ser cumprida.
Fonte : ars technica